O que é a goma de acácia?
A goma de acácia (também conhecida como goma arábica) é um
exsudado natural de seiva recolhida no tronco e nos ramos de arbustos florestais de certas espécies de acácia. Esta seiva era tradicionalmente consumida pelas populações africanas e indianas para melhorar o conforto digestivo e o trânsito intestinal.
Trata-se de uma mistura de polissacáridos e de glicoproteínas – compostos muito particulares que o organismo humano não consegue digerir. Esta particularidade permite-lhe escapar às enzimas digestivas e servir assim de fonte de energia para certas espécies benéficas da flora intestinal (os probióticos), em particular as bactérias do tipo
Bifidobacterium e as que são capazes de produzir ácido láctico.
Corresponde por isso à definição de “prebiótico” proposta por uma equipa de investigadores:
“
Um ingrediente fermentado selectivamente que permite alterações específicas tanto na composição como na actividade da microflora intestinal, o que lhe confere potencialmente efeitos benéficos para o bem-estar e a saúde2. ”
De onde vem Organic Acacia? Como é produzida?
A seiva que serviu para o fabrico de Organic Acacia provém de duas espécies de acácia que respeitam as exigências da agricultura biológica: a
Acacia senegal (L.) selvagem e a
Acacia seyal Delile3. Estas duas espécies são abundantes na África saariana (Magreb, Mali, Senegal, Sudão…).
O exsudado é produzido ao nível dos troncos e dos ramos quando a árvores sofre alterações fisiológicas durante o período seco. A produção de goma desencadeia-se depois de os tecidos estarem em contacto com o exterior; pode tratar-se de incisões voluntárias ou de lesões causadas pelo vento, a secura, plantas parasitas ou insectos roedores.
Após a recolha, a seiva endurece e é depois submetida a uma purificação muito fina na forma líquida para eliminar todas as impurezas (minerais ou orgânicas). O xarope de goma obtido é depois esterilizado a alta temperatura por um período de tempo muito curto, e, de seguida, seco e transformado num pó muito solúvel.
Quais são os mecanismos de acção da goma de acácia?
A goma de acácia contém entre 90 a 97% de fibras solúveis. Trata-se de constituintes vegetais que resistem às enzimas digestivas salivares e intestinais bem como à flora bucal e intestinal.
Quando chegam intactas ao cólon, confrontam-se com mais de 400 espécies diferentes de bactérias que coabitam como o ser humano. De entre estas espécies, algumas conseguem utilizá-las como carburante para aumentar o seu desenvolvimento: os probióticos, conhecidos como sendo benéficos para um grande número de funções do corpo humano.
Estudos
in vitro mostraram que, entre os vários géneros de bactérias que colonizam o cólon (benéficas ou patogénicas) são as estirpes do género
Bifidobacterium que são as mais capazes de utilizar a goma de acácia para o respectivo crescimento
4. Trata-se de um género de bactérias envolvido na prevenção de várias doenças e na manutenção da saúde geral.
Não é tudo pois a degradação destas fibras leva, por seu lado, à produção de metabolitos, eles próprios positivos para outras espécies benéficas;
os ácidos gordos de cadeia curta, produzidos pelas bifidobactérias, estimulam assim o crescimento de certas bactérias que produzem ácido láctico.
O ciclo de virtudes pode mesmo ir mais longe, dado que – ao propiciar as bactérias benéficas – aumenta-se a capacidade destas para combater as bactérias patogénicas que procuram também colonizar o meio
5.
Em teoria, estas fibras alimentares provocam por isso dois tipos de alterações:
- uma modulação da flora intestinal;
- uma estimulação da actividade metabólica (produção de ácidos gordos de cadeia curta, baixa do pH do conteúdo luminal).6
Que diz a investigação a propósito da goma de acácia?
A comunidade científica interessa-se muitíssimo pelas fibras solúveis, nomeadamente pela goma de acácia, para um número crescente de aplicações.
Nem todas estas aplicações são unanimemente reconhecidas pela comunidade científica, quer por se tratar de um campo novo e os investigadores estarem apenas no início das suas investigações, quer por os estudos em questão por vezes se contradizerem, não serem suficientemente exactos, de muito fraca qualidade metodológica ou interessando-se por grupos da população demasiado específicos.
Aumento das bactérias benéficas no cólon (bifidobactérias)
Vários estudos (principalmente estudos
in vitro7-8) observaram um aumento das bactérias do género
Bifidobacterium no cólon, na sequência da toma de um suplemento de goma de acácia.
O investigador Wyatt e sua equipa
9 estudaram a evolução do número de bactérias do género
Bifidobacterium que ocupavam o cólon de um voluntário antes e após a toma de um suplemento de goma de acácia (10 g por dia). Constataram um aumento significativo.
Este aumento foi depois confirmado num estudo realizado em ocultação envolvendo 10 voluntários saudáveis e que consumiram durante 10 dias goma de acácia (10 ou 15 g) ou um placebo
10. Este efeito pareceu mais pronunciado nos indivíduos que – no início – apresentavam uma quantidade de bifidobactérias mais baixa do que a média.
Diminuição dos microrganismos patogénicos gastrointestinais
As bifidobactérias inibem o crescimento das bactérias patogénicas, primeiro pelo seu desenvolvimento natural, mas também pela sua capacidade de reduzir o pH no cólon
11.
Dois estudos (
in vitro)
12 mostraram a influência potencial da goma de acácia no crescimento de bactérias do género
Clostridium e na produção da respectiva toxina correspondente.
Aumento da produção dos ácidos gordos de cadeia curta (AGCC)
Como as bactérias do tipo
Bifidobacterium produzem ácidos gordos de cadeia curta, um aumento da quantidade destas bactérias deveria, logicamente, fazer-se acompanhar por uma subida da produção destes ácidos.
Trata-se de ácidos gordos benéficos para o organismo, constituídos a 95% por acetato, proprionato e butirato. Embora todos contribuam para reduzir o pH do meio, cada um desempenha um papel suplementar diferente:
- o butirato é utilizado como uma substância de ajuda ao desenvolvimento pelas células epiteliais do cólon e é frequentemente considerado como uma molécula-chave envolvida no controlo de várias funções fisiológicas (luta contra a permeabilidade intestinal);
- o propionato é metabolizado pelas células hepáticas e poderia desempenhar um papel na regulação do metabolismo dos lípidos e dos açúcares;
- o acetato seria utilizado mais pelos tecidos periféricos.
Inúmeros estudos
in vitro13-14 e realizados com animais
15-16 mostraram que as fibras contidas na goma de acácia causam um aumento dos AGCC, mas, nos humanos, os resultados são mais mitigados. Alguns investigadores explicam esta incoerência pela dificuldade de contabilizar os ácidos gordos da forma adequada, dado que estes têm tendência para ser rapidamente absorvidos pelas células do cólon.
Assim, dois estudos
17-18 não conseguiram demonstrar qualquer subida na quantidade de AGCC após uma toma diária de 25 e 6 g de goma de acácia. Por conseguinte, este aumento de produção não foi reconhecido oficialmente como sendo um efeito benéfico para a população geral saudável.
Aumento da saciedade
Sabe-se que as fibras alimentares contribuem para reduzir os aportes calóricos aumentando a sensação de saciedade; as fibras solúveis incham ao absorver água e dão ao estômago a sensação física de estar saciado
19-21.
Outros domínios de interesse
A investigação prossegue para as aplicações potenciais seguintes:
- a regulação dos marcadores da inflamação;
- a influência nos sintomas do cólon irritável e nos sintomas inflamatórios cujas manifestações têm impacto na permeabilidade da barreira intestinal;
- o auxílio na manutenção do metabolismo renal. Alguns investigadores interessaram-se, por exemplo, nas consequências das dietas hiperproteicas (frequentes na Europa e na América do Norte) e de vários factores de risco (como a diabetes de tipo 2, as doenças cardiovasculares e a hipertensão) no funcionamento dos rins. Alguns estudos deixam perceber que um consumo de fibras de acácia poderia apresentar um interesse (redução da uricémia, crises de gota) neste domínio;
- o auxílio na manutenção dos índices adequados de colesterol.
Existem riscos na utilização da goma de acácia? Existem contra-indicações?
Em 2001, a administração francesa reconheceu oficialmente a goma de acácia como sendo uma fonte dietética de fibras solúveis (tal como o Psyllium blond).
Os dados de ensaios clínicos mencionam uma muito boa tolerância digestiva; são raras as flatulências, os inchaços e outras cãibras intestinais que acompanham muitas vezes as fibras solúveis. Isso explica-se pelo facto de a goma de acácia ser degradada mais lentamente pelas bactérias do que a maioria dos outros prebióticos e de a produção total dos compostos de fermentação (hidrogénio, metano, dióxido de carbono) parecer inferior à dos FOS
22.
Com uma toma de 10 g por dia (ou seja, 2 doses), o número de fezes e o peso fecal não sofrem alterações.
Foram comunicados casos muito raros de intolerância alérgica à goma de acácia.
Os mais recentes avanços da investigação
O efeito da toma de um suplemento de goma de acácia no índice de tecido adiposo visceral e na tensão arterial dos indivíduos com diabetes de tipo 2 – Março de 2018
Dado que determinados estudos realizados em animais mostraram que a goma de acácia podia melhorar o metabolismo lipídico graças a um efeito antioxidante e induzir uma melhoria da função capilar, alguns investigadores interessaram-se pelo seu efeito no índice de tecido adiposo visceral. Este tipo de tecido é um indicador tanto da distribuição das gorduras como do risco aumentado de obesidade abdominal e de hipertrigliceridemia.
O estudo
25 envolveu 100 pessoas com diabetes de tipo 2. De entre elas, 50 tomaram diariamente um suplemento de 30 g de goma de acácia, enquanto as outras 50 tomaram um placebo.
O colesterol HDL (muitas vezes chamado “colesterol bom”) aumentou cerca de 20% nas pessoas que tomaram o suplemento, ao passo que não teve qualquer evolução no grupo que tomou o placebo. Os triglicéridos não evoluíram nos dois grupos, enquanto o índice de tecido adiposo visceral sofreu uma redução de 23,7% no grupo que tomou o suplemento.
Estes resultados lembram as conclusões de outros estudos (um com humanos
26 e dois com animais
27-28), que evidenciaram um possível efeito anti obesidade da goma arábica. Os investigadores deixam supor uma possível melhoria da homeostasia glucídica
29 para explicar os resultados obtidos.
Nenhum dos autores declara qualquer conflito de interesses relacionado com a publicação deste estudo.
Fermentação da goma de acácia (in vitro): impacto no microbiota fecal – Janeiro de 2018
Duas doses de goma de acácia e de
fruto-oligosacáridos (um outro prebiótico) foram testadas durante 48 horas num sistema artificial reconstituindo o cólon (com o mesmo pH, a mesma temperatura e as estirpes que se encontram num cólon humano). Foram colhidas amostras no início da experiência e depois 5 horas, 10 horas, 24 horas e 48 horas após esse início.
No estudo, a fermentação da goma de acácia propiciou as
Bifidobacteria e
Lactobacillus spp, um grupo de micróbios benéficos
30. O efeito perdurou 10 horas depois, e mesmo 24 depois, o que poderia confirmar uma fermentação lenta, como foi sugerido por trabalhos anteriores
31. Paralelamente, a quantidade de bactérias patogénicas
Clostridium histolyticum diminuiu com o avançar da fermentação, o que corresponde a várias das teses já formuladas. Por fim, aumentou também a produção de AGCC, e nomeadamente do acetato, do propionato e do butirato. Os efeitos dos FOS foram comparáveis aos da goma de acácia.
Nenhum dos autores declara qualquer conflito de interesses relacionado com a publicação deste estudo.
adultos. Tomar 2 doses por dia diluídas num líquido à sua escolha (água ou bebida vegetal).
Cada dose contém 2,5 g de Fibregum™, goma de acácia proveniente de agricultura biológica.