Quanto mais envelhecemos, mais a nossa resistência diminui. Trata-se de uma fatalidade a que ninguém escapa, pelo menos actualmente. Esta fatalidade explica-se, nomeadamente, por um enfraquecimento progressivo dos nossos vasos sanguíneos e mais particularmente da respectiva capacidade de fornecer os nutrientes indispensáveis ao bom funcionamento dos tecidos musculares.
Felizmente, nos últimos anos fizeram-se imensos progressos para compreender as diferentes consequências deste declínio e para reduzir ao máximo a sua amplitude. Uma equipa de investigadores acaba mesmo de encontrar a forma de inverter esta perda de capacidade graças a um composto que propicia o crescimento de novos vasos sanguíneos.
Antes de conceber esta experiência brilhante, os autores do estudo notaram os dois pontos seguintes:
Os investigadores levantaram depois várias questões.
1) Como saber se a baixa nos índices de sirtuinas nos vasos sanguíneos é responsável por uma diminuição da resistência?
Para responder a esta pergunta, os investigadores desactivaram o gene SIRT1, que codifica a sirtuina dos mamíferos, em ratinhos jovens com 6 meses. Os ratinhos privados deste gene possuem portanto, teoricamente, uma actividade muito reduzida das sirtuinas ao nível dos vasos sanguíneos.
Dois meses após esta intervenção, os investigadores notaram neles uma redução da densidade capilar comparativamente a ratinhos normais da mesma idade. Observaram também que eles cobriam uma distância duas vezes mais curta em situação de corrida.
2) Que se passaria se se aumentassem os índices de sirtuinas nos ratinhos a envelhecer? Será que isso melhoraria a sua resistência?
Dado que uma diminuição da actividade das sirtuinas leva a uma redução na resistência, podemos imaginar que um aumento da actividade das sirtuinas conduz, pelo contrário, a uma subida da densidade capilar e a uma melhoria da resistência? Para o verificar, os investigadores confrontaram-se com um novo quebra-cabeças: como aumentar os índices de sirtuinas nos vasos sanguíneos?
A literatura científica mostra que a toma de um suplemento de NAD não é a escolha mais adaptada por a molécula não é assimilada tal qual pelo organismo. Os autores recorreram então a uma molécula que, não só passa a barreira intestinal com sucesso, como – além disso – se transforma em NAD no organismo; é o que designamos por um precursor. O precursor mais directo da NAD é o NMN (mononucleotídeo de nicotinamida) e é exactamente esse o composto utilizado pelos autores no estudo.
Durante 2 meses, trataram os sujeitos com NMN e, no final da experiência, observaram que a respectiva densidade capilar parecia tão rica como a dos seus homólogos mais jovens. Ao nível da resistência, registaram uma melhoria dos desempenhos de entre 56 a 80%, relativamente a sujeitos da mesma idade. Mais tarde foram observados efeitos semelhantes em ratinhos com 32 meses, o que corresponde a uma idade de 80 anos, no ser humano!
Estas observações suscitaram o entusiasmo dos investigadores que mediram de imediato a oportunidade de restaurar o tecido muscular durante o envelhecimento no ser humano. Tal intervenção poderia ajudar a combater os efeitos da idade e lutar contra a fragilidade que conduz a quedas, osteoporose e situações invalidantes. “Existe um grau de reciprocidade entre o músculo e o osso, afirma um dos autores – Leonard Guarente. A perda de massa muscular pode conduzir a uma perda óssea.”
Existem três vias diferentes para produzir NAD no corpo humano. Estas vias envolvem diferentes precursores que podem servir para potenciar os índices de NAD nas células.
a) A biossíntese de novo.
O organismo consegue transformar o triptofano – um dos aminoácidos essenciais fornecidos pela alimentação – em NAD através de várias reacções intermédias.
b) A via de Preiss-Handler
O organismo consegue transformar a niacina (NA) – uma das formas da vitamina B3 encontrada na alimentação – em mononucleotídeo de nicotinamida (NMN), e depois em NAD.
c) A via de salvamento
O organismo consegue voltar a formar moléculas de NAD a partir da nicotinamida (NAM) e do ribosídeo de nicotinamida (NR), dois precursores da NAD que são também produtos de degradação desta. É por esta razão que chamamos a este modo de produção a via de salvamento. O NR e a NAM são convertidos em mononucleotídeo de nicotinamida (NMN) antes de serem transformados definitivamente em NAD.
Estudos realizados mostram que a NAD é degradada no intestino delgado pelas células epiteliais do intestino (8). É transformada em NMN por várias enzimas intestinais e depois em vários metabolitos, como o NR e a NAM. São estes metabolitos que atravessam a barreira intestinal e chegam ao conjunto das células do organismo onde serão de novo transformadas em NAD.
A toma de um suplemento de NAD (ou NADH) está portanto longe de ser inútil, mas, regra geral, é preferível tomar um suplemento mais directo de NMN, NR ou NAM. Deste modo evitam-se várias etapas de degradação e de reconversão sucessivas. Os suplementos de NAD continuam, no entanto, a ser muito atractivos em virtude dos preços relativamente mais baixos do que os dos seus precursores.
Para assegurar a síntese de novo da NAD, o organismo necessita de triptofano, cujas melhores fontes são o arroz integral, a carne, os lacticínios, os ovos, as proteínas de soja, os amendoins, as leguminosas e os frutos secos de casca rija.
Encontramos depois ribosídeo de nicotinamida (NR) no leite (9), mas as melhores fontes de precursores da NAD são os produtos crus (vegetais ou animais). O sistema digestivo do ser humano, ajudado pela sua flora intestinal, degrada a NAD derivada dos outros organismos em diferentes compostos que poderão ser úteis para voltar a formar NAD através da “via de salvamento” (10).
1) Através da toma de um suplemento de precursores da NAD
A NA (niacina) é um precursor reconhecido da NAD mas provoca regularmente pequenas vasodilatações no rosto e no pescoço (11) quando se inicia a toma do suplemento. Quanto à NAM (nicotinamida), embora não exista qualquer dúvida sobre a sua capacidade de se transformar em NAD, ela poderia modular a subida da actividade das sirtuinas (12). São portanto preferíveis as 2 formas seguintes:
Estes compostos são todos formas de vitamina B3, um elemento essencial para todas as células do corpo humano e cuja escassez, frequente, se manifesta por formigueiros, perda de apetite, fadiga e flutuações do estado de humor.
2) Por um aumento da actividade física e uma melhoria da alimentação
Os autores do estudo mencionado neste artigo descobriram que o exercício físico estimulava igualmente o crescimento de novos vasos sanguíneos e potenciava a massa muscular. Contudo, quando os investigadores desactivaram o gene SIRT1 nas células endoteliais dos sujeitos e os submeteram a um treino de corrida com duração de 4 semanas, notaram que os exercícios não conduziam aos mesmos ganhos musculares do que em tempo normal.
Outros estudos haviam já evidenciado esta ligação entre a actividade física e a subida dos índices de NAD (14), tal como a restrição calórica (CR) (15), duas intervenções associadas à longevidade. Por outro lado, parece que uma alimentação rica em gorduras (16-17) acelera o seu declínio a longo prazo…
Os pontos essenciais do artigo
Conseguiremos um dia inverter o processo de envelhecimento? Poderá toda a gente tirar verdadeiro partido disso? Uma coisa é certa: o estudo marca um ponto de viragem nesta senda apaixonante pela imortalidade e mostra que os limites da esperança de vida podem certamente ser alargados. Desde que se tome rapidamente consciência dos novos obstáculos que constituem uma barreira na via: a industrialização incessante da nossa alimentação e a generalização do stress crónico.
O estudo principal do artigo
Abhirup Das, George X. Huang, Michael S. Bonkowski, Alban Longchamp, Catherine Li, Michael B. Schultz, Lynn-Jee Kim, Brenna Osborne, Sanket Joshi, Yuancheng Lu, Jose Humberto Treviño-Villarreal, Myung-Jin Kang, Tzong-tyng Hung, Brendan Lee, Eric O. Williams, Masaki Igarashi, James R. Mitchell, Lindsay E. Wu, Nigel Turner, Zolt Arany, Leonard Guarente, David A. Sinclair. Impairment of an Endothelial NAD -H 2 S Signaling Network Is a Reversible Cause of Vascular Aging. Cell, 2018; 173 (1): 74 DOI: 10.1016/j.cell.2018.02.008
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