Considerado como o rei dos antioxidantes, o glutatião é realmente um composto excecional que, ainda assim, é muitas vezes esquecido. Sabia que, por exemplo, desempenha um papel fundamental no funcionamento saudável, no equilíbrio e na defesa do organismo?
Embora seja conhecido cientificamente como o tripeptido gama-glutamil-cisteinil-glicina, o glutatião pode ser simplesmente descrito como um composto natural presente em muitos organismos vivos, incluindo nos seres humanos.
Encontrado em vários níveis no corpo humano, o glutatião está presente nas nossas células e, como discutiremos neste artigo, cumpre diversos papéis-chave. Mas sejamos mais precisos. Na verdade, existem duas formas de glutatião: uma forma oxidada designada como GSSG, e uma forma reduzida chamada GSH. Esta última é frequentemente descrita como a forma ativa, sendo utilizada para fins de suplementação em cápsulas de glutatião reduzido.
As duas formas de glutatião coexistem no organismo e formam o que é conhecido no jargão científico como um “casal redox” ou casal GSH/GSSG, algo extremamente importante para a nossa saúde, já que desempenha um papel crucial nas defesas do organismo, no metabolismo de nutrientes e na regulação de várias vias essenciais para o equilíbrio geral.
No entanto, neste casal GSH/GSSG, uma das formas – glutatião reduzido ou GSH – é mais importante do que a outra. De facto, atualmente uma célula é considerada saudável se tiver um rácio GSH/GSSG superior a 100, ou seja, uma quantidade muito maior de GSH do que de GSSG. Por outro lado, um rácio entre 1 e 10 é considerado um sinal de que as células estão sob intenso ataque. O GSH resiste a esta agressão, mas, ao fazê-lo, a sua concentração diminui rapidamente, razão pela qual a suplementação poderá ser altamente benéfica na proteção do organismo.
Entretanto poderá já ter ficado com uma ideia dos benefícios do glutatião, mas este composto desempenha realmente muitos papéis no organismo. Como a lista das suas funções é, de facto, demasiado extensa para incluir aqui, iremos descrever os três principais papéis do glutatião nos seres humanos.
O glutatião é frequentemente descrito como a mãe ou o rei dos antioxidantes. Isto ocorre devido à sua excecional potência antioxidante, ou seja, à sua capacidade de combater os danos causados pelo stress oxidativo, o processo conhecido por ser responsável por danos significativos (e envelhecimento prematuro) nas nossas células. O glutatião é, portanto, um valioso aliado na luta contra problemas e doenças de saúde relacionados com a idade.
De certa forma, podemos considerar que o glutatião tem uma dupla ação antioxidante. Não só combate de forma direta a acumulação de espécies altamente reativas de oxigénio, mas também estimula outros mecanismos de defesa. Em particular, atua como um cofator de enzimas antioxidantes, promovendo igualmente a atividade de outros antioxidantes naturais, como as vitaminas C e E. Portanto, através de diferentes mecanismos, o glutatião é capaz de capturar agentes nocivos, ajudando assim a proteger o organismo!
Para além do seu poder antioxidante, o glutatião protege o organismo de outras formas. Está envolvido na eliminação de inúmeros resíduos e toxinas, evitando que se acumulem e tenham consequências negativas. Uma dessas toxinas é o formaldeído, produzido durante vários processos metabólicos do organismo. O glutatião estimula a sua decomposição, agindo como um substrato da enzima formaldeído desidrogenase, o que converte o formaldeído e o glutatião em S-formil-glutatião, ajudando também a eliminar certos metais pesados. O glutatião é, por exemplo, necessário para transportar o mercúrio para fora das células e do cérebro.
Para além de ser um agente antioxidante e desintoxicante natural, o glutatião também protege o organismo através de mecanismos mais complexos, influenciando nomeadamente a proliferação e renovação celulares. Um nível adequado de glutatião, por exemplo, incentiva a proliferação de células epiteliais intestinais e de linfócitos. No centro das defesas do organismo encontram-se os linfócitos, glóbulos brancos que desempenham um papel fundamental no sistema imunitário, ao combater diversos agentes nocivos. O glutatião desempenha, portanto, um papel inegavelmente importante nas defesas do organismo, facto confirmado por estudos científicos: os investigadores observaram, por exemplo, que ajuda a combater a infeção pelo vírus da gripe.
Nota: Para além dos seus benefícios protetores, o glutatião também está envolvido na síntese do DNA e de proteínas. Desempenha um papel na expressão genética e ajuda a melhorar a função mitocondrial.
Como pode ver, o glutatião é um elemento-chave no funcionamento saudável e na defesa do organismo, pelo que é tão importante manter concentrações adequadas. Devemos mencionar ainda que o organismo é capaz de produzir glutatião, mas, como iremos explicar mais à frente, esta síntese pode ser prejudicada por vários fatores, causando a descida dos níveis. Por isso, o uso de suplementos alimentares pode ser muito benéfico, permitindo que o organismo resista a várias agressões externas!
Voltando à produção de glutatião no organismo, esta pode ocorrer de três formas diferentes. A primeira, designada como síntese de novo, envolve a produção de glutatião a partir de três aminoácidos: glutamato, cisteína e glicina. Requer duas etapas de transformação e a intervenção das enzimas glutamato-cisteína ligase e glutatião sintetase. Ocorre principalmente nas células hepáticas, sendo o fígado o principal produtor e exportador de glutatião do organismo. A segunda forma consiste em obter glutatião reduzido, a forma ativa, a partir da sua forma inativa – o glutatião oxidado. Este processo, descrito como regeneração, também requer intervenção enzimática. Finalmente, a terceira forma pode ser designada como “ressíntese”, pois envolve a reciclagem do aminoácido cisteína. Este mecanismo é controlado por uma enzima específica, que permite obter glutatião reduzido.
Embora o organismo seja capaz de produzir glutatião, por vezes as concentrações diminuem por várias razões e podem até cair a pique. Como mencionado, a produção de glutatião é influenciada por diversos fatores. Está particularmente dependente da atividade de várias enzimas, mas esta atividade pode ser inibida, tornando estas enzimas inativas. Esta inibição enzimática bloqueia assim a síntese de glutatião. Uma falta de energia também pode perturbar estes mecanismos. Por fim, a produção de glutatião está diretamente ligada à quantidade de cisteína disponível nas células. Quando as concentrações deste aminoácido são demasiado baixas, pode ocorrer deficiência.
Podemos, então, verificar que a deficiência de glutatião pode estar facilmente relacionada com a falta de aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas e que podem ser obtidos a partir de várias fontes alimentares. No entanto, este fornecimento nem sempre é infalível. O problema mais evidente é uma baixa ingestão nutricional com níveis inadequados de proteína. Outro motivo, mais complexo, é a baixa absorção de proteínas, que pode ser causada por problemas digestivos ou mesmo pelo consumo de álcool. Também foi demonstrado que algumas formas de cancro e quimioterapia associada afetam a quantidade de aminoácidos disponíveis.
Os níveis de glutatião reduzido também podem diminuir quando estão a ajudar os mecanismos de defesa do organismo a enfrentar múltiplas agressões externas (poluição, raios UV, stress ambiental…). Como mencionado, é capaz de neutralizar as espécies reativas de oxigénio, que danificam as células. Ao cumprir este papel protetor, o glutatião reduzido é convertido em glutatião oxidado, tornando-se inativo. Como resultado, as concentrações de glutatião ativo diminuem.
Neste momento já deverá ter ficado claro que níveis baixos de glutatião podem ter um impacto significativo nos mecanismos de defesa do organismo. De facto, foram realizados vários estudos sobre este tema, tendo os investigadores observado que a deficiência de glutatião pode estar envolvida no desenvolvimento de certos problemas de saúde, incluindo:
Níveis baixos de glutatião também foram associados ao envelhecimento prematuro. Num estudo com idosos, aqueles com os níveis mais altos de glutatião foram considerados os mais saudáveis. Os investigadores também observaram uma menor incidência de doenças neste grupo. Em simultâneo, verificou-se que um estado elevado do glutatião reduzido está relacionado com uma série de processos associados à longevidade, com uma aparente ligação entre o glutatião e a atividade da telomerase, uma enzima que influencia a sobrevivência das células ao manter os telómeros. Por fim, a falta de glutatião reduzido foi associada a um declínio de algumas das funções do organismo, devido a danos cumulativos no ADN mitocondrial que, de outra forma, teriam sido limitados pela atividade antioxidante do glutatião e efeitos protetores.
Como demonstrado no parágrafo anterior, a suplementação de glutatião pode ajudar a prevenir a sua deficiência. Mas também pode ser utilizada para fins preventivos, com benefícios de proteção para o organismo amplamente documentados. Como antioxidante e desintoxicante natural, também constitui um ingrediente útil para combater os efeitos do envelhecimento.
Nos últimos anos, vários suplementos alimentares foram desenvolvidos para ajudar a restaurar os níveis adequados de glutatião celular, otimizando assim as defesas do organismo. A escolha de suplementos aumentou ao longo do tempo, sendo agora possível obter formas altamente absorvíveis, como o S-acetil glutatião. Com os avanços simultâneos nos sistemas de acondicionamento de suplementos, estão agora disponíveis suplementos perlinguais de glutatião, que são simples de utilizar e fornecem uma forma de glutatião facilmente absorvida pelo organismo.
Ao mesmo tempo, é importante observar o seu estilo de vida, se deseja manter uma atividade ideal do glutatião no seu organismo, pelo que será uma boa ideia reduzir a sua exposição a fatores que aumentam o stress oxidativo, como a poluição e os raios ultravioletas, bem como o consumo de álcool e tabaco.
N. B. Poderão surgir novas descobertas a contradizer ou a confirmar as informações fornecidas neste artigo. Se tiver alguma dúvida, consulte um profissional de saúde.
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